Maria Firmina dos Reis nasceu em São Luís do Maranhão, em 11 de março de 1822, apesar de seus registros mostrarem que ela teria nascido mais de três anos depois, em 21 de dezembro de 1825 — uma enfermidade em seus primeiros anos de vida teria atrasado o seu batismo. Em sua certidão consta apenas o nome de sua mãe, Leonor Felippa dos Reis; a paternidade de João Pedro Esteves apenas foi declarada muitos anos mais tarde, no registro de óbito de Firmina. Seu pai havia sido sócio do proprietário de terras Caetano José Teixeira, comerciante de grande influência durante a instalação do Império, e quem também havia alforriado sua ex-escrava Leonor.
Afrodescendente e filha ilegítima desse relacionamento, vivendo num momento social de extrema segregação racial, ela se muda com a mãe e a irmã, em 1830, para a casa de uma tia materna mais abastada, na então vila de São José de Guimarães, no município de Viamão. Sua vida ali foi bastante oportuna para garantir-lhe uma melhor formação. A partir de 1847 começa a se dedicar ao magistério, tornando-se professora de primeiras letras, em Guimarães, profissão que exerce até o ano de 1881.
Indo na contramão daquela realidade burguesa, misógina e escravocrata, Maria Firmina dos Reis lança mão de sua primeira grande obra ficcional — impressa pela Tipografia de Belarmino de Mattos, em 1859. Úrsula é possivelmente o primeiro romance escrito por uma mulher negra em toda a América Latina até então, mas é certamente o primeiro a trazer a perspectiva do negro à trama, e não apenas como um simples adorno ou de maneira caricata.
A partir daí, entre 1861 e 1865, a escritora se torna presença recorrente na imprensa de São Luís, publicando em periódicos variados — tais como O Domingo, O Jardim das Maranhenses, Pacotilha, Publicador Maranhense, Semanário Maranhense, A Verdadeira Marmota, entre outros — diversos tipos de textos, entre eles poesias, contos e até mesmo charadas. Logo no início desse período, Firmina lança Gupeva, romance indianista publicado em fascículo no jornal O Jardim das Maranhenses, em 1861. O volume de poemas Cantos à beira-mar, cujas mais de duzentas páginas foram impressas pela Tipografia do Paiz, teve sua primeira edição publicada dez anos depois, em 1871, e cujos textos carregados de subjetividade melancólica e inquietação trazem um novo tom à sua produção.
Em 1880 funda a primeira escola mista e gratuita de Guimarães e uma das primeiras no Brasil. Nesta mesma ocasião recebe o título de Mestra Régia. A fundação do colégio teve forte repercussão na época, para o bem e para o mal, por isso acredita-se ter havido represálias para que as atividades escolares fossem encerradas. Seu conto “A escrava”, texto abolicionista que trazia à voga novamente a questão do fim da escravatura, é publicado em 1887 pela Revista Maranhense às vésperas da abolição. Um ano depois, quando ocorrida de fato a abolição da escravatura, a escritora compõe o “Hino à Libertação dos Escravos”, em 1888.
Maria Firmina dos Reis morre em 11 de novembro de 1917, aos 95 anos, pobre e cega, em Guimarães, no Maranhão, encerrando uma vida dedicada a ler, escrever, pesquisar, ensinar e resistir.
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