Não costumo indicar leituras para a cabeceira da cama, porque eu mesmo sempre acabo pegando no sono e não consigo desenvolver o texto. Sim, é um defeito meu. Mas isso não me impede de indicar um livro capaz de driblar esse problema. Estou falando do livro A máquina diferencial, de William Gibson, um dos mais geniais escritores do gênero de ficção científica, ao lado de Bruce Sterling.
Antes de falar da obra em si, quero apresentar a você um pouco sobre o Gibson. Ele é um escritor norte-americano, nascido na Carolina do Sul, em 1948. É chamado de profeta noir do cyberpunk. Foi ele quem criou o termo ciberespaço em um conto chamado “Burning Chrome”, e que veio a se popularizar em seu maior sucesso, Neuromancer, isso antes da popularização da internet e dos ambientes virtuais que conhecemos hoje.
Então, o cara tem respaldo para escrever sobre o tema. E, junto com Bruce Sterling, escreveu A máquina diferencial, uma referência steampunk na literatura, e é nela que vamos focar.
Podemos dividir o protagonismo do livro entre quatro personagens, com histórias paralelas que se completam conforme a trama se desenvolve, até chegar no desfecho. Temos entre esses protagonistas Sybil Gerard, uma prostituta e filha de um falecido líder revolucionário ludita (movimento ludito); Edward Mallory, paleontólogo que descobriu o brontossauro no Texas; e Laurence Oliphant, um jornalista, diplomata e espião, que trabalha reunindo informações sobre a ameaça ludista e outros separatistas.
A trama se desenvolve em uma Inglaterra de 1855, onde a invenção de Charles Babbage, a Máquina Diferencial, foi para frente (ao contrário do que aconteceu na vida real, pois a invenção não foi continuada devido à complexidade e ao valor exorbitante das peças que a fariam funcionar). Com a invenção de Babbage, esse período vivenciou uma grande revolução tecnológica e científica, e isso desencadeou no país uma espécie de teocracia, liderada pelo Primeiro Ministro, Lorde Byron.
Com todos esses parâmetros, chegamos a Londres para conhecer a diplomacia inglesa e seus homens infiltrados, a agência de Antropometria Criminal, que possui o registro das medidas do corpo de cada cidadão e trabalha no reconhecimento de suspeitos e criminosos. Assim, invadimos o movimento ludista e seus ideais contra o avanço tecnológico e industrial, e, sobretudo, encaramos o Fedor, que é um odor exalado das águas do rio Tâmisa, graças à poluição extrapolada da capital inglesa. Graças ao Fedor, a cidade é posta em situação de evacuação, e, aproveitando o momento, um grupo de terroristas coloca em prática um plano de revolução, a fim de tomar o poder sobre o país, que está nas mãos dos cientistas.
É um clima cheio de conspiração, mistério e conflitos que permeiam o universo de uma Inglaterra vitoriana. Isso tudo muito bem arquitetado pelos dois autores, uma obra bem descritiva e de fácil imersão. Apesar de ser um pouco difícil de se ater a todos os detalhes que culminarão no fim da obra, A máquina diferencial é um marco da narrativa steampunk, além de uma referência tanto para os novos quanto para os mais assíduos leitores do gênero — leitura indispensável para qualquer amante de ficção científica.
“Em uma versão alternativa da Inglaterra vitoriana, a ascensão do Partido Radical trouxe mudanças impressionantes. Pelas ruas da capital, cartolas e crinolinas misturam-se a cinétropos, gurneys e cabriolés. O trem metropolitano e o sistema de esgotos revolucionam a rede urbana. Tudo graças às conquistas científicas alcançadas pela Máquina: no auge da Revolução Industrial, os avanços promovidos pela tecnologia a vapor anunciam a era da informática. Com um século de antecedência. Mas Londres também é uma cidade em convulsão. O alvoroço causado pela turba desordeira assusta a população. Além disso, uma conspiração mais sofisticada — porém não menos perigosa — parece ameaçar a segurança e a estabilidade de todo o país.”
Fonte: Editora Aleph