Autoria: Julian F. Guimarães
Data: 9 fev. 2021
Durante uma conferência na Universidade Harvard, em 1993, Umberto Eco descreveu a ficção como um bosque, cujos caminhos se bifurcam por trilhas muitas vezes indefinidas, o que não impede que todos possam traçar sua própria trilha, “decidindo ir para a esquerda ou para a direta de determinada árvore e, a cada árvore que encontrar, optando por esta ou aquela decisão”. No caso dos contos, a principal diferença reside justamente na extensão e no número desses caminhos e bifurcações: enquanto no romance os caminhos são quase sempre mais longos, nos contos nos deparamos com um tipo de atalho.
Embora a extensão de um conto e de um romance ou novela seja, de fato, a característica que salta aos olhos de qualquer leitor (o que, porém, não é regra), ambas as formas literárias apresentam um ponto em comum: são modos de se contar determinada(s) coisa(s) e, portanto, são todas narrativas. Por isso, a brevidade que o gênero conto geralmente apresenta não exclui sua complexidade e, como todo texto de ficção, partilha de algumas características do romance: o conto também apresenta narrador, personagens, foco narrativo etc. Definir o conto por sua extensão, no entanto, não parece ser um consenso entre escritores e críticos. 
Afinal, qual a diferença, então, entre um conto e uma crônica?
O gênero literário conto pressupõe posteridade (mesmo que parta de acontecimentos reais e datados), e sua estrutura apresenta traços próprios, tais como a concentração em poucas células dramáticas (não raro, apenas uma célula dramática). Nesse sentido, embora sejam todas formas narrativas, o conto tende a ter menor número de personagens (o que não é uma regra, mas sim um padrão). A própria definição que os dicionários apresentam para conto concordam nesse aspecto: “narrativa breve e concisa, contendo um só conflito, uma única ação (com espaço geralmente limitado a um ambiente), unidade de tempo, e número restrito de personagens” (Houaiss).
Apesar da difícil definição, o gênero conto é bastante popular, e sua primeira teoria surgiu, provavelmente, nos Estados Unidos com Edgar Allan Poe. Para o mestre da literatura de horror, são “ingredientes básicos do gênero a intensidade, resultante de um bom domínio da brevidade e da unidade, buscando um efeito único que seria a verdade”. Por isso, se o conto, por um lado, geralmente tem extensão menor do que um romance ou novela, por outro lado exige de seus autores o perfeito domínio da concisão e da coesão.
Como, então, desenvolver habilidade nesse gênero literário?
A resposta: lendo, lendo e lendo. No Brasil, temos inúmeros exemplos de excelentes contistas, tais como Clarice Lispector, o Bruxo do Cosme Velho Machado de Assis, Mário de Andrade, entre muitos e muitos outros nomes de destaque dentro da narrativa curta, alguns dos quais disponibilizamos gratuitamente com o projeto Pílulas para o fim do mundo. Todos esses autores e autoras, sem exceção, assimilaram as características essenciais de um conto e, à semelhança do que afirmou Julio Cortázar, compreenderam que o romance sempre ganha por pontos, enquanto o conto deve ganhar por nocaute.
“Decidindo ir para a esquerda ou para a direta de determinada árvore e, a cada árvore que encontrar, optando por esta ou aquela decisão.”
Umberto Eco

“Narrativa breve e concisa, contendo um só conflito, uma única ação (com espaço geralmente limitado a um ambiente), unidade de tempo, e número restrito de personagens.”
Definição do dicionário Houaiss

“Ingredientes básicos do gênero a intensidade, resultante de um bom domínio da brevidade e da unidade, buscando um efeito único que seria a verdade.”
Edgar Allan Poe

OUTRAS POSTAGENS DO BLOG

Back to Top