Você já deve ter visto muitos filmes sobre pessoas que trabalham em editoras. São quase todos idênticos: um sujeito de óculos de armação grossa atrás de uma mesa coberta por pilhas de livros. São reclusos e quase misantropos, preferem a noite e têm forte tendência ao alcoolismo. Na ficção, o universo de editores e de todos aqueles que fazem parte do “mercado editorial” é glamoroso e, muitas vezes, se confunde com os próprios escritores. Aliás, talvez seja esse justamente o motivo de tanta fantasia sobre a carreira desse cara (ou dessa moça): sua matéria-prima é o fruto do trabalho intelectual de outras pessoas. Uau! Uau?! Nem tanto… A realidade, meus caros e caras, é que o trabalho em uma editora não está nada distante de qualquer outra forma de ganhar a vida. É uma atividade tão burocrática e extenuante quanto qualquer outra.
Como assim? Então por que se dedicar a uma profissão que, além de cansativa, como todas as outras, mal renumerada, ê vidinha de assalariado, e burocrática, são tantas planilhas e e-mails e números e contratos e tanta coisa mais, não tem nada do glamour que vemos nos filmes do Woody Allen? Difícil resposta. E o pior: por que, então, abrir uma nova editora em um mundo tão cheio de livros que as pessoas não leem? Hein?! Calma lá, caro(a) leitor(a).
Já trabalho com livros há algum tempo e, por todas as editoras pelas quais passei ou para as quais realizei algum tipo de trabalho, em todas elas, era unanimidade: pessoas sempre apaixonadas por livros. Isso mesmo: pessoas cujo crush é esse objeto antiiiigo, mas nada obsoleto. É como aquele seu tio chato que insiste em convencer a todos numa festa de que os Rolling Stones são melhores do que os Beatles, sabe? Todos sabemos que são. Né? Então, tente convencer uma pessoa que trabalha em uma editora de que a sua profissão é cansativa, burocrática e blá-blá-blá.
O livro, para nós operários da palavra, é muito mais do que um simples objeto. É quase um amuleto. Há até aqueles que viajam com seus livros de cabeceira porque não se veem longe deles. Loucura? Então imagine alguém tão sadomasoquista que decide, por livre e espontânea vontade, abrir uma editora. Interna ele, já tô ouvindo. Acalmem-se, acalmem-se. Não é pra tanto.
Criar a própria editora sempre foi um sonho para todos nós da Fora do Ar. Publicar autores que fizeram parte de nossa trajetória intelectual enquanto leitor, dar espaço para novos autores mostrarem o seu trabalho e oferecer uma nova experiência do livro para nossos leitores o leitor brasileiro: é isso o que queremos. Cada livro é um novo desafio, uma nova aventura. Por isso, quase nada daquilo que os filmes do Woody Allen mostram são verdade. Não somos como aqueles personagens chatos e sisudos. Cruz-credo! Somos legais, acreditem.
Então, como diria nosso querido viajante intergaláctico David Bowie, “put on your red shoes and dance the blues”.